Sentada na esplanada daquele café conseguia ver o meu reflexo no vidro que se encontrava bem á minha frente, logo depois daquela cadeira vazia – onde tantas vezes tu te sentaste e a encheste de alegria e amor (a ela e a mim).
Hoje sou só eu, o meu reflexo e o vazio.
Enquanto me observo pergunto-me se naquele reflexo – tão pouco nítido – serei mesmo eu, pois a única coisa que vejo é uma sombra – do que fui ou do que sou e não quero ver.
Sentada na esplanada daquele café senti a tua presença, senti o teu cheiro juntamente com a brisa do vento que se fazia sentir naquela tarde de verão. E mil e uma memórias passaram pela minha cabeça – e éramos tão felizes em todas (ou pelo menos aparentávamos ser).
Acendi um cigarro, como se o fumo fosse fazer desaparecer todas aquelas imagens da minha cabeça – e lembrei-me de como tu detestavas que eu fumasse. Surgiu de imediato um flashback das nossas discussões, e percebi que afinal nem sempre foi tudo um mar de rosas, e que a nossa relação não era uma estrutura sólida de coisas boas. Pelo contrário, a nossa relação sempre foi um pilar de fingimento, inseguranças, discussões.
Sentada na esplanada daquele café lembrei-me de ti pela primeira vez sem sentir saudade do que fomos. Lembrei-me de ti e senti um alivio (tão grande) no peito por já não fazer parte da confusão que era a tua vida. E agradeci. Agradeci por já não te ter. Agradeci pelo que aprendi o tempo que vivi contigo e sobretudo pelo que aprendi quando me abandonaste.
Sentada na esplanada daquele café dei por mim a escrever sobre ti, mais uma vez. Mas desta vez foi diferente – descobri que afinal sou feliz (sem ti) – e se até hoje me limitei a sobreviver, a partir de agora, irei com toda a certeza, começar a viver.