– O que te move?
– Não saio do sítio.
Tombo para todo o lado, desamparada. Ora seguro-me numa ponta de um pé, ora agarro-me em algum pilar, avistado por algum acaso do momento. Mas não saio do mesmo sítio. Este que me prende e ao mesmo tempo me abana e me faria cair.
É uma confusão de lugares dentro do mesmo lugar fechado, é um sarrabiscar de pensamentos que entram tão rápido e fogem antes que os consiga agarrar. Calo-me de boca aberta, grito de boca fechada – engulo as palavras e fico cheia, quando tento despeja-las, já estão entrelaçadas nesta teia que se forma, e saem, mais tarde, silenciosamente, sem que sejam escutadas.
Sou, portanto, tudo o que não revelo em voz alta. Sou a turbulência do despertar acelerado, sou a ansiedade por aquele atraso de cinco minutos, sou o silêncio da minha solidão, sou a alegria dos meus pequenos grandes sucessos. Sou a cereja no topo do meu bolo. E continuo a tombar, não para os dois lados em simultâneo, porque seria equilíbrio a mais.
Mas vejo a chuva a bater na janela – é o preencher deste vazio. E eu? Sou eu aquela gota que demora a chegar ao destino, mas, quando chega, acaba por desaguar em todas as outras. Eu sou essa gota, eu sou diferente, mas igual a tudo, fundida nesta poça que é a vida em sociedade – todos acabamos da mesma forma, porém, temos pressa.
– O que te move?
– Eu, comigo.
Saí, apoiei-me em mim, desenlaçaram-se os pensamentos, e eu saí, mas continuo, sempre, em mim.